E como se, desavisada, eu deixei-me em uma rua sem saída. E você, meio morto-vivo, não me vê mais. Não é meu cheiro que lhe domina mais, meu rosto já não lhe é familiar e por isso não me reconhece mais. E eu mesma, não me reconheço: fraca, desesperada e prestes a sucumbir àquilo que mais temia. Faltam-me as armas ao punho, a adaga cruel que me protege de ti. Seus olhos secos movimentam-se devagar, como que quase em transe, procurasse alguém. Alguém a quem devorar como peça, sem vida, de carne. Deixo-lhe chegar perto demais, presa frente ao predador. Não tenho chance e rendo-me a ti. Devora-me, deixe-me ao menos servir-lhe de algo, uma vez que a mim já não sou mais útil. Então, vejo-lhe, arrancar a carne fresca. Pedaço por pedaço, perco-me aos poucos. Minha autodestruição é a única maneira que me ligo, a cada mordida, a você. Sinto-me reconfortada e pereço em minutos em seus lábios.
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