"Somos Frutos de Nossas Escolhas"
Por Ricardo Valim | 21/11/2010 | FilosofiaAo passo que me manifesto nesta realidade com meus desejos, aspirações, sonhos e verdades subjetivas ou dogmáticas, automaticamente torno-me responsável pelos atos que professo. Engraçado é que independentemente de eu ser uma pessoa de boa índole ou não estarei sempre a procura do bem individual que me compete. Está, portanto, descartada a possibilidade de que as pessoas sejam más devido ao fato de buscarem sempre o bem para si. O problema reside no fato do "choque de vontades" entre os indivíduos, pois o que é absolutamente bom para uma pessoa pode ser totalmente prejudicial para outra.
Impossível seria viver neste mundo sem responsabilidades. O compromisso é o "freio da humanidade" que nos impede ? para o nosso próprio bem ? de extrapolar todos os limites até mesmo de nosso organismo.
Sartre diz que "... o homem é responsável por aquilo que é." (SARTRE, 1973, pag. 12), e é por isso mesmo que temos medo de nos ferir muito mais do que ferir os outros. Somos egoístas por natureza e nos esquecemos que o bem do próximo é indispensável para a existência singular. Tal elemento é constatável pelo fato de que se destruo o outro com a vontade inerente no meu ego não haverá a possibilidade de haver um choque de idéias. Se não existir o outro não existirá conflito e, por conseguinte não haverá crescimento pessoal. Escolher aniquilar a humanidade para que somente uma verdade prevaleça é falta de sensatez, é uma loucura. E é por isso mesmo que toda ditadura estatal está fadada ao eterno fracasso.
A intersubjetividade é o caminho para a edificação integral do ser. E é somente por via dela que há a possibilidade de crescimento e desenvolvimento. Assim define o filosofo Frances Jean Paul Sartre a importância dos relacionamentos interpessoais: "Para obter uma verdade qualquer sobre mim, necessário é que eu passe pelo outro. O outro é indispensável a minha existência, tal como, aliás, ao conhecimento que eu tenho de mim. Nestas condições, a descoberta da minha intimidade descobre-me ao mesmo tempo o outro como uma liberdade posta em face de mim, que nada pensa, e nada quer senão a favor ou contra mim. Assim descobrimos imediatamente um mundo a que chamaremos a intersubjetividade, e é neste mundo que o homem decide sobre o que ele é me o que são os outros." (SARTRE, 1973, pag. 22).
Não existe possibilidade, responsabilidade mais bela e singular que está, porque ela é que garante uma existência mais sábia e cautelosa neste mundo.
A consciência, os compromissos são as chaves para a existência do ser. São importantes por que nos tornam mais amadurecidos em relação aos objetos, seres a nossa volta e inclusive a nós próprios.
O pior para muitas pessoas é ter que conviver com os imprevistos. A imprevisibilidade do futuro é o pesadelo da humanidade. O mito de "Prometeu Acorrentado" de Ésquilo retrata perfeitamente tal fato: "Para quem está fora do sofrimento é fácil aconselhar e incitar o sofredor. Mas eu sabia de tudo isso. Foi por vontade própria, sim, por vontade própria, que cometi a imprudência, não nego. Para socorrer os mortais preparei tais dores. No entanto, não pensava em semelhante suplicio, pouco imaginava que iria definhar nesses cumes rochosos, agrilhoado a um pícaro deserto e solitário." (ÉSQUILO, 1982, pag. 21).
Mas o que manteve realmente Prometeu acorrentado não foram os grilhões, mas sim o seu ego e o desejo de receber recompensa pela sua generosidade. Sem recompensa e ainda castigado, Prometeu acabou por se frustrar e ficou prezo em seu ego para todo o sempre.
Muitas pessoas têm o mesmo comportamento de Prometeu, se mantém prezas a falta de certezas, em seu ego, pois não querem cometer gafes na vida. A existência é bela porque nela está contido o sentido de superação do ser e é somente pelos erros que se alcança a glória dos acertos.
Existir, ter responsabilidades, ter consciência, não significam a castração do ser diante das relações intersubjetivas. Em outras palavras, não é um "pisar em ovos" constante, mas é a presença da força vital da humanidade pulsando forte, sedenta de novas descobertas.
Enfim a imprevisibilidade do futuro é a garantia de a vida continuar tendo sentido e fundamento e é por isso que seremos eternamente aquilo que escolhermos ser.
REFERENCIAS
GUZIK, Alberto. Prometeu Acorrentado. Tragédias. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
FERREIRA, Vergílio. Jean-Paul Sartre: O Existencialismo é um Humanismo. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.