Reencontro
Várias alamedas de ciprestes encontram-se desde a porta de entrada. Túmulos de variadas formas e tamanho compõe o cenário. Em muitos deles estão plantados vasos com flores. Noutros, apenas flores colocadas nas lápides. Em cada uma lê-se um nome com a data de nascimento e de morte Palavras de despedida estão escritas, tais como: saudades eternas de seu marido, esposa, saudades de seus filhos e netos. Ainda, saudades eternas de seus pais. Frases de conforto tornam um pouco menos lúgubre o ambiente. Só sentimos saudades porque tivemos o privilégio de convivermos. Saudade é a nossa alma dizendo pra onde quer voltar. São observadas também várias capelas mortuárias.
É nesse ambiente que entra Roberto. Um homem de 50 anos, com a cabeça raspada, apoiado numa bengala. Seu olhar é tristonho. Rugas marcam vincos em seu rosto, onde antes faziam sorrisos Não freqüentava velórios, nem enterros, mesmo antes da fatídica noite. Todo sofrimento lhe volta à mente. Caminha devagar, cuidando para não cair. Olha para todos os lados e vê que o cemitério está vazio. Segue, percorrendo vários túmulos, procurando um em especial. Pensa se não seria um desejo mórbido que o levara lá. Apressa o passo. Quer chegar ao destino antes que desista.
Para, quando se defronta com um monte de terra , sem túmulo, só com uma tabuleta com um número escrito 50. Com dificuldade ajoelha-se e faz o sinal da cruz. Lágrimas escorrem. As mãos estão suadas. O pensamento que lhe ocorre é: não poderia ter acontecido tamanha desgraça! No mesmo instante chega o zelador do cemitério, que ao vê-lo naquela situação, indaga.
── O senhor está bem? Necessita de algum auxílio?
── Não obrigada. Estou só um pouco angustiado. ── diz Roberto.
── Algum familiar morreu há pouco tempo? ── continua perguntando o zelador.
── Não, o que morreu foi uma parte minha.
── Não entendi.
── Quer mesmo saber? diz Roberto com a fisionomia contraída. O que está enterrado sob o monte de terra é a minha perna. Faz um ano que numa noite de inverno fui atropelado e ela foi amputada . Só sobrou parte da coxa.
Roberto levanta a calça na parte direita do corpo e mostra uma perna mecânica. O zelador observa e pergunta:
── O senhor mandou enterrar só a perna, aqui?
── Sim. Mandei comprar o lugar para isso. Quando morrer, quero ser enterrado junto a ela. Faz parte de meu corpo. Nasci com ela e a quero junto a mim. Estou com um câncer disseminado e o médico me deu, no máximo um mês de vida. Só vim para verificar se meu desejo tinha sido obedecido. Logo estarei aqui, inteiro.
Themis
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