PROFETA AMÓS E A INJUSTIÇA SOCIAL

Por Laurenil Machado da Silva | 02/12/2025 | Educação


 

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS





 

LAURENIL MACHADO DA SILVA













 

PROFETA AMÓS E A INJUSTIÇA SOCIAL

















 

 

Rio Brilhante MS

2025


 

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS




 

LAURENIL MACHADO DA SILVA






 

PROFETA AMÓS E A INJUSTIÇA SOCIAL



 

                           





 

                                           
 

                 





 

Trabalho apresentado na Disciplina de Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel em Teologia da UNIGRAN EAD - Centro Universitário da Grande Dourados.


 

Professor Me. GIVALDO M.  MATOS  
 


 





 

 






 

Rio Brilhante MS

2025

PROFETA AMÓS E A INJUSTIÇA SOCIAL


 


SILVA, Laurenil Machado da 

MATOS, Givaldo Mauro 


 

RESUMO:

O presente artigo vem trazer uma face obscura na sociedade israelita no período da monarquia, especificamente no tempo do profeta Amós que faz sérias denúncias devido as injustiças sociais que permeavam a nação, os ricos oprimindo os pobres, as autoridades jurídicas corrompidas suas sentenças sempre beneficiavam os grandes latifundiários que só aumentavam suas riquezas em contrapartida o pobre ficava cada vez mais miserável, não bastasse isso, o sistema religioso e o seu culto vazio, cumpriam os ritos de acordo com a lei, porém, sua cerimônia era estéril sem vida, a opressão aos pobres e as injustiças eram presente em suas relações sociais, um desagrado a Javé, sendo assim, a profecia de Amós apontou castigos pelo afastamento de Deus. A salvação ainda era possível, basta que abandonassem as práticas iníquas e buscassem ao Senhor, o profeta aconselha deixem de praticar o mal e busquem o bem, (Am 5.4) “buscai me e vivei”.


 

Palavras-chaves: 1 AS INJUSTIÇAS SOCIAIS; 2 CORRUPÇÃO DAS AUTORIDADES; 3 A FALSA RELIGIÃO.



 

ABSTRACT:

This article aims to reveal a dark side of Israelite society during the monarchy, specifically in the time of the prophet Amos. He made serious denunciations of the social injustices that permeated the nation: the rich oppressing the poor, corrupt legal authorities whose sentences always benefited the large landowners who only increased their wealth while the poor became increasingly miserable. Furthermore, the religious system and its empty worship fulfilled the rites according to the law, but their ceremonies were sterile and lifeless. The oppression of the poor and injustices were present in their social relations, a displeasure to Yahweh. Thus, Amos's prophecy pointed to punishments for turning away from God. Salvation was still possible, however, if they abandoned wicked practices and sought the Lord. The prophet advises them to stop doing evil and seek good (Amos 5:4), "Seek me and live."

(Google Tradutor)


 

Key words: 1 SOCIAL INJUSTICES; 2 CORRUPTION OF AUTHORITIES; 3 FALSE RELIGION.
 

1 INTRODUÇÃO

Amós, um pastor de Tecoa, viveu aproximadamente em 750 a.C., contemporâneo de Isaías (740 a. C.), Amós foi o primeiro profeta escritor, sua maneira de escrever revela um profundo conhecedor da vida religiosa, política e literária do seu tempo. A sociedade israelita no seu período monárquico segue na contramão do propósito estabelecido por Javé, tem-se uma corrupção desenfreada dos ricos injustos, dos juízes vendedores de sentenças, por outro lado uma monarquia que almejava a qualquer custo poder, riqueza, mesmo que para isso, necessário fosse oprimir os pobres e os menos favorecidos, contrariando o que foi estabelecido na lei do Rei, seguindo nos passos da desobediência temos os sacerdotes que violavam o primordial mandamento, a misericórdia aos mais pobres e excluídos, faziam vistas grossas ao procedimento ímpio na sociedade de Israel e com a falsa religiosidade impregnada.

Temos, portanto, uma participação relevante do profeta em relação aos seus patrícios que detinham o poder na nação, acusa veementemente a injustiça praticada contra os pobres, que eram pisados pelos afortunados, juízes corruptos que faziam tudo por dinheiro, suas balanças eram enganosas e suas sentenças injustas. O profeta tem consciência de que a lei é uma manifestação da vontade divina, e que a justiça e o direito são como essências da lei, portanto, é contrário a prática religiosa sem compromisso com os mandamentos divinos, como servo do Altíssimo entendia claramente que a lei de Deus tem como premissa a prática da justiça, conforme citação do salmista (Sl 89.14): “justiça e direito são o fundamento do trono de Deus”. Portanto, a eleição de Israel implica em uma maior responsabilidade, e não em impunidade, o prenuncio de um castigo que viria pelas iniquidades cometidas, também trazia consigo um apelo a conversão genuína, “buscais ao Senhor e viveis”.


 

2 AS INJUSTIÇAS SOCIAIS

O peso da mensagem do profeta tem uma conexão com o seu nome que significa “carregador de fardos”. A ligação do nome com a função do profeta Amós é interessante e incomum.

A pessoa deve procurar ajudar todos os homens de todas as formas e maneiras que puder, procurando aliviar a carga de seus semelhantes. (LUZZATO, 2002, p.115).

Justiça é uma atitude social, por isso os desfavorecidos são os principais destinatários da justiça, neste contexto o justo torna-se agente que resgata o pobre da acusação daqueles que usam seu próprio sucesso para questionar o sofrimento do necessitado. (GUERRA,2018, p.277). Os ricos e prósperos entendiam que a pobreza e a miséria é fruto da incompetência de quem vive nessa fatia social, os afortunados orgulham-se de seu sucesso que consideram resultado de sua competência e capacidade intelectual. 

Conforme destaque de (MANTOVANI,2013, p.25): “Portanto, ao criticar a religiosidade e toda conjectura sociológica, o profeta se posiciona firmemente contra tais sistemas. Toda usurpação, opressão, e forma de coagir o povo é contra os princípios de justiça, tão presentes em Yahweh”.

O destaque na mensagem do profeta em um período que Israel passa por uma grave crise social, Amós acusa os responsáveis pelo que se passa a população mais vulnerável da sociedade israelita, contrariando a Lei de Deus (Dt. 14.7-8) “Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas cidades, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás as mãos a teu irmão pobre; antes, lhe abrirás as mãos e lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade”. Israel, agora vivendo como as outras nações, sob o sistema da monarquia, aos poucos foi se esquecendo da Aliança do Sinai, como cita o profeta em (Am 2.4) “[...] porque rejeitaram a lei do Senhor, e não guardaram os seus estatutos”; O abandono dos mandamentos de Deus, levou a nação aos passos largos para a desigualdade social, citada pelo profeta (Am 5.7) “[...] deitais por terra a justiça”.

O cerne do pecado de Israel são as injustiças  que são fortemente confrontadas por Amós.    

“Amós poderia ser definido como o profeta da justiça social, pois, concentra os seus anátemas especialmente sobre a questão da injustiça social num ambiente de prosperidade econômica”. (GOMES,2020, p.155).

 O profeta age em conformidade com sua posição, uma das premissas do ministério é trazer as pessoas de volta aos caminhos da luz e sua palavra é dura ao opressor, ele entende que a lei de Deus tem a missão principal de preservar a vida do homem, Amós, é a voz do que não são ouvidos, e clama por justiça.

O padrão ético do profeta era o combustível que o impulsionava a protestar contra a distribuição injusta de riquezas, e nesse círculo vicioso o pobre ficava mais pobre.

GOMES, continua em sua leitura do profeta Amós no quesito injustiças sociais:

A injustiça social cometida pelos ricos que violentam o direito do pobre, dos socialmente fracos, a prepotência dos governantes e poderosos da sociedade, são atitudes condenadas por Amós, pois, de acordo com ele, são precisamente os ricos, os governantes e os poderosos que deveriam ser os protetores dos fracos ao invés de serem seus opressores. (GOMES, 2020, p.162)


 

Os profetas sempre criticaram especialmente o estilo de vida de ostentação onde se esquecem de Deus. Essa vida de luxo era bancada pelos pobres oprimidos, esmagavam os necessitados para satisfação de suas vaidades. 

“Os homens ricos da sociedade israelita antiga não saiam no prejuízo em circunstância alguma. Criavam meios de ganhar dinheiro de todas as formas e arrancar o máximo que podiam dos menos favorecidos”. 

Esse era o padrão da sociedade os grupos no topo da pirâmide são os que ditam as regras, e sugam até a alma dos pequenos, são como a sanguessuga só querem mais e mais, são insaciáveis.

Outro destaque de (LAZZARI JUNIOR, 2011, p.101) “Os ricos e injustos eram o principal alvo do profeta em suas críticas”.

O que irritava profundamente Amós eram os latifundiários que acumulavam grandes propriedades, que só eles mesmos usufruíam, contrariando a vontade de Javé que é o bem comum com a distribuição das terras que fora estabelecida na Aliança, conforme destaque a seguir:

“Um dos fundamentos da ordem socioeconômica no tempo da confederação tribal tinha sido a posse por parte de cada grande família da sua própria moradia e de um pedaço de terra suficiente para prover às necessidades básicas da vida de seus membros”.

O profeta não se esquecera que, foram escravos, mas Deus os libertara. Agora, deveriam olhar para cada sofredor no mundo, a partir da memória que tinham do que é o sofrimento, e distribuir a graça que receberam de Deus, pois também haviam experimentado gratuitamente a libertação. A lei do Senhor trata de forma veemente as questões que envolvem os direitos humanos, a intenção da lei é humanizante, conforme citado em (Lv. 19.13) “Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás, a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã”.  O senso de justiça devia ser o mandamento que regesse a sociedade israelita, porém, práticas de opressão eram constantes, pois, deixaram a lei do seu Deus cometendo iniquidade. A desobediência tem o seu fruto conhecido por punição, Deus tem visto o sofrimento dos pequeninos do povo, a justiça e o direito foram aniquilados da organização social de Israel, e a nação não ficará impune, conforme destaque (Am 3.2b) “[...] portanto, eu vos punirei por todas as vossas iniquidades”.

Acerca das desigualdades que permeavam a sociedade israelita destacamos:

CHOURAQUI, (1990, p.49)

Escavações arqueológicas confirmam essa igualdade relativa dos níveis de vida: na época de Davi, as casas parecem ter quase sempre a mesma estrutura e a mesma dimensão. Na época de Amós, elas revelam diferenças mais acentuadas entre ricos e pobres, agrupados em bairros diferentes na cidade. É nessa época que ressoam as invectivas dos profetas que, de Amós a Jesus, não se cansarão de condenar o açambarcamento das terras e dos capitais, o consumo exagerado dos bens, a injustiça, a especulação, a fraude, o luxo, a corrupção, a impiedade dos ricos. Os pobres, os fracos, os pequenos, as viúvas e os órfãos são as lamentáveis vítimas da iniquidade social.


 

Os profetas procuram ressaltar os aspectos humanizantes da Lei, eles exigem não somente as práticas de justiça em suas relações sociais, como também a compaixão pelos necessitados. O Deus de Israel está sempre em favor dos oprimidos pela injustiça, a Casa de Israel representada pelos juízes corruptos, sacerdotes dos santuários reais, o exército e todos os que semeiam o sofrimento e humilharam até o pó ao pequeno Jacó – não se salvará por causa de suas injustiças, e o abandono da retidão.

A mensagem de Amós além de criticar duramente à injustiça social que permeava a nação, e as desigualdades sofrida pelos pobres, e questiona o comportamento dos afortunados opressores, conforme destaque em (Am 3.10) “Porque Israel não sabe fazer o que é reto, diz o Senhor, e entesoura nos seus castelos a violência e devastação”. Pelo fruto das suas obras será punido, (Am 3.11a) “Portanto, assim diz o Senhor Deus: Um inimigo o cercará a tua terra”, promessa de juízo divino.

SILVA,1998, p.62 apud MATOS,2024, p.27

Podemos terminar este roteiro lembrando que o tema central de Amós é o fim de Israel, porque os ricos oprimem os pobres, os poderosos deturpam a justiça e o direito, subornam os juízes nos tribunais e cometem muitas outras barbaridades. E, ainda por cima, vão aos santuários e ali oferecem custosos sacrifícios e participam de grandes celebrações, ocultando a opressão que se comete sistematicamente.

 

O tema da crítica à injustiça social elaborado por Amós, abrange todas as áreas importantes da vida, confrontando o comportamento de uma sociedade que não distribui justiça para todos.

LAZZARI JUNIOR, (2011, p.100):

Como costuma ocorrer na história, o rico esmaga o pobre. O padrão ético do profeta o impulsionava a protestar contra distribuição injusta de riquezas, a qual levava o pobre a ficar mais pobre, como costuma acontecer principalmente em países subdesenvolvidos. [...] Amós pinta um quadro onde os ricos viviam em casas de marfim, enquanto os pobres eram oprimidos”.


 

De acordo com (BONORA,1983. p.26 Apud ERDOS,2013. p.21) a opressão aos pobres é o que mais pesa sobre os ricos:

Os pobres são, para os ricos que os pisam, como o pó da terra. O homem foi feito do pó da terra: ‘Então, Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo’ (Gn 2.7). Deus inspirou-lhe seu espírito e o homem tonou-se ‘um ser vivente’, isto é, uma pessoa (Gn 2.7). Ora, a opressão dos ricos reduz novamente o homem a pó. A opressão dos pobres é anticriação. Reduzir o homem a  apar (pó) significa degradá-lo ao estado pré-humano, torna-lo ‘ninguém’. O pobre é pisado e oprimido, não é ninguém!”.

 

“Ouvi e protestai contra a casa de Jacó, diz o Senhor Deus, o Deus dos Exércitos”. (Am 3.13). Tempos de escuridade se aproxima Israel virou as costas para o Senhor seu Deus, seguindo suas próprias cobiças, ignorando os preceitos e mandamentos dados por Javé ao seu povo.


 

3 CORRUPÇÃO DAS AUTORIDADES


 

O profeta continua em sua defesa aos pobres e oprimidos pelo sistema jurídico corrompido em suas práticas de suborno e opressão, conforme destaca Matos:

MATOS, (2024, p.26):

Crescendo na denúncia contra essa sociedade corrupta, está ainda a denúncia de que todo o sistema jurídico está corrompido, e o que deveria ser um lugar de decidir justiça está sendo um lugar de extorsão, injustiça e corrupção. Juízes vendem sentenças, silenciam os justos e colaboram com a opressão.


 

Aos olhos de Amós Yahweh é um Deus justo, piedoso, bondoso, que não tolerava o acúmulo injusto de riquezas. Através de sua lei revela-o como um ser que cuida dos pobres e ordenava que o povo agisse da mesma maneira.

Segundo MATOS, (2024, p.43) “Javé é Deus sensível ao sofrimento humano, sobretudo daqueles que mais padecem debaixo da opressão”. Israel vivia debaixo de uma inversão gigantesca de valores, ética e justiça se retiraram das relações sociais do povo hebreu, os ricos dominados pelo desejo desenfreado de riqueza, e cometendo injustiças contra os menos favorecidos, impondo cargas pesadas aos pobres da terra, dando as costas para a vontade de Deus, conforme destacado em (Sl 106.3) “Bem-aventurados os que guardam a retidão e o que pratica a justiça em todo o tempo”.

CHOURAQUI, nos apresenta o perfil dos inspirados de Israel, conforme descrição a seguir:

O profeta é testemunha de uma exigência absoluta, que ele apresenta em nome do Criador do céu e da terra. Ele não defende uma ideia, uma doutrina, uma teoria, nem interesses de um grupo, de uma classe, de uma nação. Sua reivindicação é de ordem divina, de natureza metafísica e universal. Daí o extremismo, a veemência e o alcance de sua contestação. (CHOURAQUI, 1990, p.219).


 

Assim como destacado anteriormente, o desejo desenfreado por dinheiro, sempre funciona como um saco furado, nunca se completa, assim seguia os corruptos em Israel: “Os homens ricos da sociedade israelita antiga não saiam no prejuízo em circunstância alguma. Criavam meios de ganhar dinheiro de todas as formas e arrancar o máximo que podiam dos menos favorecidos”.

 Segundo (LUZZATTO,2002, p.69), “Há muitos que conseguem a santidade em muitas áreas, mas que não conseguem a perfeição em disfarçar lucros e vantagens desonestas”. Eis aí o grande leão a ser vencido, o buscar as riquezas de forma ética e honesta.

Seguindo no raciocínio do autor: 

[...] anuncia o futuro dos homens poderosos e opressores, os quais ignoravam princípios éticos nas relações interpessoais, deixando de lado o órfão, a viúva, o pobre, e pensavam apenas em enriquecer, acumular bens, cultivar o prazer, não se importando se tudo aquilo era conquistado às custas do trabalho dos que possuíam muito pouco e não tinham qualquer direito de aproveitar as coisas boas da vida. (LAZZARI JUNIOR, 2011, p.101).


 

De acordo com (GOMES, 2020, p.162), “Os profetas denunciam que a riqueza quase sempre é de origem injusta. Os profetas criticam especialmente o estilo de vida de ostentação onde se esquece de Deus”.

Amós através de seu ministério profético é a voz dos menos favorecidos, sua denúncia de abandono das ordenanças divinas por parte da elite israelita, que devia praticar justiça, socorrer os necessitados, não se ocupam com tais questões, antes, porém, só pensam em si mesmos e de como ganhar mais de forma desonesta.

O profeta detecta que toda a esfera social de Israel está corrompida, segundo (GOMES, 2020.p.164).

Amós foi um crítico sagaz de uma realidade social injusta. Como oponente de uma situação de pecado conjuntural e estrutural, denunciou a opressão dos pobres e humildes, das pessoas simples do povo, bem como uma religião alienante. Amós não crítica apenas as pessoas corruptas, mas todo o sistema político-religioso que torna as pessoas corruptas.

 

O profeta segue em sua linha de discurso contra os opressores de Israel, conforme o texto: “Ele denuncia a exploração dos pobres e dos fracos, os crimes dos poderosos, a injustiça dos ricos. Ele descobre as raízes do mal no próprio ser do homem, o orgulho, a falsa força de seres desviados pelo apetite do poder e que se gabam de ilusórios triunfos políticos e militares”. (CHOURAQUI, 1990, p. 243).

O profeta insiste em sua denúncia: “[...] porque os juízes vendem o justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias”, (Am 2.6b).

O que importava para a classe abastada era se dar bem, curtir uma vida de prazer e luxúria, independente prejudicar outros, faziam de tudo para conseguir se beneficiar conforme relato do profeta em Amós 3.10 “Porque Israel não sabe fazer o que é reto, diz o Senhor, e entesoura nos seus castelos a violência e a devastação”, viraram as costas para os mandamentos, seguindo suas atrocidades contra o pequenino do povo contrariando o que diz o salmista (82.3) “Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e desamparado”, esse é o comportamento que devia permear em Israel, os maiores socorrendo os menores em suas necessidades, assim é o desejo do Senhor, porém, seu povo ignorou completamente suas ordenanças.

Os ricos afligiam o justo, subornando os juízes e comprando sentenças. O profeta não tolerou ver homens revestidos de autoridade sendo corrompidos de modo tão leviano, tomando decisões com base no poder aquisitivo dos cidadãos.  De acordo com a mensagem em destaque (Am 5.12) “Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta”. 

Ainda que Israel tenha deixado de lado as ordenanças estabelecidas por Javé, mesmo assim, o desejo do Senhor era de uma conversão, uma mudança de rota, que seu povo buscasse a fazer o que é reto, agindo com justiça e socorrendo os desamparados, e Ele os chama para si (Am 5.4) “Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivei”. Javé convoca para uma conversão, que contempla um novo tempo de restituição do direito e da justiça.


 

4 A FALSA RELIGIÃO


 

Segundo (GOMES 2020), “É também época de corrupção religiosa, de uma religião sincretista, com ritualismo que pretendem comprar Iahweh. A aliança se converte em letra morta”. 

A religião vazia da geração de Amós, de acordo com LAZZARI JUNIOR (2011, p. 105):

Todavia, na época de Amós o rigor e os rituais eram feitos com muita dedicação. Certamente os sacerdotes também participavam da corrupção moral que existia em Israel, mas ficavam satisfeitos porque o povo trazia os sacrifícios que estavam ordenados na Torá, os quais eram desfrutados por eles.


 

Ao estabelecer com Israel a sua Aliança Javé prioriza e exige práticas de misericórdia e justiça entre o seu povo, o socorro aos pobres e necessitados, e uma conduta reta e íntegra diante das pessoas é também um culto ao Senhor, temos, portanto, uma sociedade que sacrifica, tem sua prática religiosa, porém, se esqueceram do primordial que é a obediência a lei do Senhor, Deus está farto de cultos vazios, ritos e mais ritos são um desagrado à Santidade de Javé. Amós cita (Am 5.21) “Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembleias não tenho nenhum prazer”. Seguindo (Am 5.22) “E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados”. O sistema religioso totalmente corrompido, acreditavam que os rituais seriam recebidos por Javé, que por sua vez, deseja que a justiça em Israel fosse como um rio sem fim, a rejeição do Senhor Deus as oferendas e sacrifícios é um quadro escuro na história do povo hebreu.

Conforme BURBANO descreve em sua publicação:

Segundo (SCHÖKEL, 1991, p. 982. Apud BURBANO, 2008, p. 743), “Amós foi contrário à prática religiosa sem compromisso com o direito e a justiça e que somente garantia a tranquilidade de consciência e o bem estar dos ricos e poderosos”. O verdadeiro culto devia promover a prática do bem através do estabelecimento da justiça e misericórdia, ações que desapareceram como fumaça em Israel.

Segundo (BOFF, 1984, p. 107, Apud LAZZARI JUNIOR, 2011, p. 107) “Eram pessoas que acreditavam que Deus se importava mais com os ritos do que com a justiça e misericórdia”.

O agravante é tamanho que o Senhor Deus rejeita veemente os cânticos, afasta de mim suas músicas, não quero ouvi-las, estou farto de suas melodias, não ouvirei, seus cultos eram inaceitáveis aos olhos do Senhor. (Am 5.23). 

GOMES,2020 segue em sua análise da prática religiosa em Israel:

“Para Amós, a justiça humana e a justiça divina estão conectadas, privilégios acarretam maior responsabilidade, indivíduos e povos têm obrigação de viver de acordo com o conhecimento de que dispõem e culto sem moral não tem valor algum diante de Deus”. (GOMES,2020. p.158). Seus cultos eram um instrumento de opressão, mascarando suas injustiças.

Percebe-se que apenas tinham práticas ritualísticas em sua religiosidade, ignorando veementemente os mandamentos contidos na Lei do Senhor, que exigia o andar em retidão, ser honesto em seus negócios, a prática da justiça, da misericórdia e do socorro aos aflitos, portanto, sua religião é falsa e reprovável pelo Senhor. Amós condenava a religião sem compromisso, era puro ritual, o culto esplendoroso, mas, sem autenticidade. Partindo desse ponto, Amós observa que um dos elementos mais trágicos que tem atraído o julgamento de Deus, é a falsa religião, de acordo com destaque a seguir: (MATOS,2024. p. 26)

MOTYER apud MATOS, descreve acerca dos ritos religiosos em Israel: 

Quando Amós volveu os olhos para a religião, viu que tinha muita religiosidade, que adorava o que era tradicional, mas que tinha se livrado da revelação divina. Os centros religiosos viviam aparentemente lotados, os sacrifícios eram escrupulosamente oferecidos, as partes musicais do culto eram entusiasticamente apresentadas. Mas não havia nenhuma base além da mente humana. Permanecia ainda o falso culto de Jeroboão que, quase dois séculos antes, resolveu estabelecer uma alternativa ao de Jerusalém. (MOTYER,1991, p.01, apud Matos,2024, p.26).

Observa-se a denúncia grave aos sacerdotes, uma religião vazia, hipocrisia por toda parte, homens com aparência de piedade, porém abandonaram o mais importante, uma vida justa e reta diante do Senhor, suas práticas abomináveis oprimem e sufocam os pobres e miseráveis. A verdadeira religião exige que: “Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça como ribeiro perene”. (Am 5-24)


 

4 CONCLUSÃO 


 

Israel povo escolhido pelo Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, para ser luz à outras nações, se desviaram, escolhendo seus próprios caminhos, abandonaram o modelo teocrático no qual Deus era quem governava sobre o seu povo, e seguem o regime monárquico que foi estabelecido no tempo do profeta Samuel, Israel desejava ser como às outras nações. Aqui começa a decadência israelita, tanto no âmbito da moral como teológica, pois, os reis que sentaram no trono de forma maciça não andaram segundo a Lei de Javé servindo como pedra de tropeço ao povo. A grande maioria dos profetas sempre denunciaram tais comportamentos fora da vontade estabelecida por Deus, o profeta Amós identifica o desvirtuamento da sociedade israelita: suas injustiças sociais, corrupção e culto vazio.

A exploração dos pobres por parte dos ricos, juízes vendedores de sentenças, uma sociedade que o rico prosperava cada vez mais de forma desonesta e corrupta, enquanto a classe operária sofria com um sistema jurídico totalmente corrompido empobrecia a cada dia.

Para piorar a situação tem a classe sacerdotal, os religiosos que tinham a incumbência de ajustar o povo em alinhamento com a aliança de Javé, fechavam os olhos para opressão e injustiças vivenciadas em Israel, as práticas ritualísticas eram feitas corretamente, ofertas, sacrifícios, porém, abandonaram o principal que é o andar em justiça e retidão, seus rituais religiosos se tornaram um culto vazio, sem valor algum, não recebidos por Javé, que de forma dura diz (Am 5.b) “[...] não ouvirei as melodias das tuas liras”. O culto havia se tornado um instrumento de opressão um meio para mascarar as injustiças. À uma promessa de juízo eminente para Israel, por abandonarem a lei do Senhor, um tempo de punição por suas iniquidades, por mais que a profecia de Amós anunciasse o castigo, ela vinha acompanhada de um apelo imediato a uma conversação genuína, com a exortação de buscar ao Senhor e vivei. (Am 5.4). A mensagem de Amós é tão relevante e necessária em nossos dias, a busca pelo sagrado deve estar alinhada com práticas de justiça, uma conexão entre a religiosidade e ações que dignificam e engrandecem à vida humana, essa é a proposta com maior ênfase no livro do profeta, um alinhamento entre a religião e a vida em sociedade de acordo com a lei de Deus, sua profecia exige a desinstalação das estruturas que desumanizam para edificar uma sociedade compromissada pela ética divina, conforme destaque no livro de (Tg 1.27) “A religião pura e sem mácula, para com nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”, o Senhor convoca aos seus que vistam-se de justiça (Sl 132.9a), com a finalidade de ter um bom testemunho diante de Deus e dos homens, dessa forma a sorte dos obedientes será mudada, (Am 9.14a) “Mudarei a sorte do meu povo”.


 

5 REFERÊNCIAS 


 

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CERESKO, Anthony R. Introdução ao antigo testamento: numa perspectiva libertadora. São Paulo: Paulus, 1996.

CHOURAQUI, André. Os Homens da Bíblia. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

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ERDOS, Francisco. A voz profética de Amós em uma sociedade marcada pela opressão e pela falta de solidariedade. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Escola de Educação e Humanidades, Curitiba, 2013, p.20-24. Disponível em: https://archivum.grupomarista.org.br/pergamumweb/vinculos/tede/francisco1.pdf . Acesso em 04 Mai. 2025.

GOMES, Tiago de Fraga. A Profecia de Amós como crítica à injustiça social. Encontros Teológicos, Florianópolis, V.35. N.1, 2020, Art. p. 153-174.

GUERRA, Danilo Dourado; RIBEIRO, Hamilton Matheus da Silva. Justiça Social em Foco; O Livro de Amós e suas influências para o movimento profético Veterotestamentário. Estudos Bíblicos, vol. 35, no. 139, p.272-287, jul/set 2018. ISSN 1676-4951. 

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