O Eneir Guerra resolveu levar o seu sobrinho para passear em Belo Horizonte. Pegamos o ônibus da Viação Pretti e seguimos para Colatina, local onde embarcaríamos no trem para a capital mineira. Para economizar a grana que era curta pernoitamos no Hotel Rex, aquele que fica próximo da Rodoviária. Nada pra fazer a noite sentamos na praça principal de Colatina. O Eneir sugeriu que deveríamos seguir a primeira irmã com a bíblia na mão e entrar na igreja que ela entrasse. Foi a primeira vez que entrei na Igreja Maranata. No final um homem de terno orou para que a nossa viagem transcorresse bem. Levantamos cedo e ajeitamos as nossas malas para pegar o trem. Enquanto o Eneir estava no banheiro eu procurava um pano para limpar o sapado e não encontrava nada. Olhei para aquela cortina roxa do Hotel Rex e pensei com os meus botões como é que alguém coloca uma cortina roxa. Vi que a cortina era tão velha que rasgava com qualquer puxão. Dei uma puxada e uma tira de vinte centímetros de cima abaixo veio parar em minhas mãos. Peguei um pedaço para limpar os sapatos e enfiei o restante na bolsa do Eneir sem que ele percebesse. O trem estava lotado, porem, conseguimos lugares para sentar. O Eneir na janela e eu no corredor. Uma moça bonita veio com uma mala grande, daquelas que parece de papelão. O meu tio querendo se engraçar para o lado da garota, que viajava em pé, foi logo se oferecendo para segurar a mala. A moça me entregou a bagagem e eu apenas a empurrei para cima do cavalheiro ao lado. A mala foi direto no Ray Ban do rapaz e fez um estrago. Tive que ouvir até chegar a BH. Viajar sem dinheiro é difícil. A hospedagem foi na casa do Gilson, amigo do Eneir. Gente boa o Gilson. Ele nos recebeu com muita alegria. O meu tio foi desfazer a mala e viu um pedaço de tecido roxo no meio de suas roupas. Não acredito que você rasgou a cortina do hotel e colocou um pedaço na minha bolsa. Eu disse que já estava preparando a minha defesa caso o homem do hotel fosse fazer o chek-out. É claro que o culpado era ele. A prova do crime estava na bolsa dele e não na minha. O tio Eneir teve a coragem de levar o sobrinho ao cinema e foi logo entrando para ver uma película para adultos intitulada: De k para a lua. Bateu um sentimento de culpa nele e não passou cinco minutos e já estava chamando para sair. Entramos em outro cinema e assistimos a um filme nacional estrelado pela Fernanda Torres, de nome: A marcada carne. O filme é ruim com força. Conta a briga de uma família por causa de um pedaço de carne. Miséria pura. Fomos aos principais pontos turísticos de Belo Horizonte. No Mineirão foi a minha maior emoção. Pisei no gramado onde Reinaldo havia jogado muito pelo Galo e não pude conter as lagrimas. Esta emoção foi inventada pelo Eneir. Ele contou a mentira tantas vezes para os outros na minha presença que eu me convenci que de fato eu cai em prantos quando vi as fotos do Reinaldo e quando pisei no gramado do Mineirão.
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