O Auto Da Alma: A Via-crucis Existencial
Por Sandra Moreira dos Santos | 30/01/2007 | PoesiasALMA
Anjo que sois minha guarda,
olhai por minha fraqueza
terreal!
de toda a parte haja resguarda,
...
Cercai-me sempre ò redor
porque vou mui temerosa
de contenda.
Ó precioso defensor
meu favor!
Vossa espada lumiosa
me defenda!
Tende sempre mão em mim,
porque hei medo de empeçar,
e de cair.
Dessa forma, é mediante ao Anjo que os pressupostos e doutrinas religiosas são transferidos ao público, para o qual são propostos os ideais da conquista divina.
Insere-se diante do anjo protetor a imagem sedutora e tentadora do Diabo figurando um grande contraste no caminho em que a Alma se encontra. Concernente a esta cena Gil Vicente ilustra mais uma vez a existência humana envolvida por duas esferas, em que positivo e negativo são traços que se apresentam simultaneamente nos caminhos da vida, procurando com isso, fomentar a necessária da inclusão de apoios religiosos na trajetória existencial.
Os argumentos do Diabo revelam o intuito de persuadir e desviar a Alma estimulando-a a reconhecer as possibilidades de uma vida mais prazerosa e passível de ser vivida intensamente, pois a condição humana encontra-se perpassada de erros e de gozos.
ANJO
Quem vos engana
e vos leva tão cansada
por estrada,
que somente não sentis
se sois humana?
Não cureis de vos matar
que ainda estais em idade
de crescer
Tempo há i pera folgar
e caminhar
Vivei à vossa vontade
e havei prazer.