Media Effects - os efeitos dos meios de comunicação
Por Roger Santos | 16/08/2011 | SociedadeO filme "O que teria acontecido com Baby Jane?", Robert Aldrich, 1962, trouxe proposta de análise da mídia ao longo do "breve século XX" no dizer de Hobsbawm, limitado entre 1914 e 1991. O recorte, do início da 1ª Guerra ao fim da bipolaridade política-militar, EUA x URSS, cenário montado em função do cisma político-ideológico: capitalismo rumo ao sistema liberal contra um modelo estatal pautado no uso da força e na corrida militar, opção feita pela então União Soviética, foi tema prolífico na produção cultural sonora, imagética e escrita. Aldrich dividiu o filme em três fases: "1917; 1935 e Ontem" em alusão ao teatro, ao rádio e ao cinema e, à televisão, respectivamente, cada fase mostrando os efeitos da mídia, daí nossa preocupação sobre como agem os meios de comunicação na reformatação dos modos sociais.
Enquanto a Europa era destruída pela guerra nos anos 1910, nos EUA, o entretenimento social estava no teatro. Para lá convergiam as massas, época em que o rádio ainda não havia chegado aos lares. O uso comercial do rádio vem nos anos 1920 com o fito de entreter, informar e educar e, ao longo do século XX, será equipamento para a construção de sonhos, elemento agregador do lar nos horários das novelas, mecanismo indispensável a regimes de estado que precisa chegar à casa de cada família para propagandear a ideologia vigente, o que é preferido e o que é preterido na sociedade. Hitler, Mussolini e Vargas são apenas três exemplos de como o rádio serviu a ditadores e regimes. Conseguiram usar a potência do rádio em seu momento mais pujante, os anos 1930-40, recorte que Woody Allen chamou de "A Era do Rádio". No caso do Brasil, o rádio serviu aos interesses da ditadura varguista do Estado Novo até seu ocaso, em 1945.
O avanço do rádio é concomitante ao avanço da produção cinematográfica hollywoodiana com obras vistas por plateias internacionais. O melodrama de origem grega passa do palco para a tela. Benjamim dissera em 1931 que o teatro se tornara "um aparelho extremamente frágil". Há cem anos o cinema começava a arrebatar as massas, ocupando antigos teatros e mostrando ao público a exibição de sombras, as imagens na tela, o avanço tecnológico cuidou de ofuscar o brilho do teatro.
Da era do rádio para a televisão, as mídias eletrônicas continuaram a produzir seus efeitos. Mais um salto proposto por Aldrich para finalmente chegar a sua contemporaneidade, argumentando que já nos anos 1950 os estadunidenses têm seu interesse na televisão. Como fora com o rádio, instalado na sala de estar onde as pessoas se reuniam para ouvir seus programas favoritos, com a televisão aconteceu o mesmo, de início reapresentando antigos filmes. O novo aparelho, trazendo imagem e som ao mesmo tempo, serviu para prender a atenção das pessoas redesenhando gostos, modos familiares e sociais. O teatro deixa, portanto, de ser o lugar de aglutinação das massas, promovido à esfera do sofisticado, do culto, como proposta cultural voltada para públicos que também consumiram a tv, porém mais seletos, das elites aos anarquistas e ao operariado, pois o massivo passa a ter em sua própria residência, sobretudo a partir dos anos 1970 a produção artística ao alcance do toque de um botão.
A aceleração da vida cotidiana, as preocupações com as seguidas ofertas de consumo desenham um quadro por vezes revestido de frustração, cansaço e nervosismo, daí ligar o receptor, rádio, TV ou computador e anestesiar o cérebro para no dia seguinte enfrentar as dificuldades recorrentes. Escapar para outro mundo, o dos sonhos, é o desejo do telespectador da novela, dos filmes e por que não da internet. Ao usar um computador com acesso à rede, é possível ao usuário tornar-se um avatar, um simples desenho no mundo fictício. O escapismo propiciado pela rede tem paralelos no cinema e na TV perceptíveis em dois exemplos: "A rosa púrpura do Cairo" e "Tron". Ambos ensejando a necessidade em ser transmutado para uma realidade idealizada. A internet é um caminho de convergência dos meios comunicacionais, lá estão rádio e TV, notícia e entretenimento, dependentes de pesada parafernália tecnológica para aproximar pessoas em ações virtuais. Será possível cunhar um neologismo, o internetismo a partir do entendimento que nesta contemporaneidade a internet é uma espécie de foz das mídias?