EDUCAÇÃO FINANCEIRA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Por ELLEN MONTINELLI | 02/07/2025 | Educação

EDUCAÇÃO FINANCEIRA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL



 

Ellen MONTINELLI1



 

RESUMO: Educação financeira é mais do que saber fazer contas. Ela envolve entender como lidar com o dinheiro de forma equilibrada: gastar com consciência, poupar, planejar e fazer escolhas. A ideia não é ensinar crianças a enriquecer, mas sim a tomar decisões financeiras inteligentes, baseadas em valores como responsabilidade, paciência e organização. Por que falar de dinheiro na escola? A resposta é simples: porque todos lidamos com ele desde cedo. Seja para comprar um lanche, economizar para um brinquedo ou entender por que os pais fazem escolhas no supermercado, a vida financeira está presente na rotina dos estudantes. Por isso, a educação financeira nos anos finais do ensino fundamental é uma ferramenta essencial para formar cidadãos mais conscientes, responsáveis e preparados para o mundo.


 

Palavras-chave: educação financeira - responsabilidade - cidadãos












 

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1 Professora da Física, Matemática e Pedagogia, montinelli@hotmail.com.


 

Introdução

Por que iniciar nos anos finais do fundamental?

Entre os 11 e 14 anos, os estudantes começam a desenvolver maior autonomia, senso crítico e interesse por temas ligados à vida adulta. É nessa fase que muitos já recebem mesadas, lidam com pequenos orçamentos e têm mais influência da mídia e da publicidade. A escola, então, torna-se o espaço ideal para discutir:

  • O valor do dinheiro e do trabalho

     
  • Consumo consciente e sustentável

     
  • Diferença entre desejo e necessidade

     
  • Planejamento de gastos

     
  • Importância da poupança

     
  • Riscos do endividamento (inclusive dos pais)

     

A educação financeira na escola é importante porque ajuda a formar cidadãos mais conscientes, responsáveis e preparados para lidar com o dinheiro ao longo da vida. Veja os principais motivos pelos quais ela deve fazer parte da formação escolar:

1. Desenvolvimento da autonomia

Desde cedo, os estudantes começam a lidar com decisões financeiras, como usar a mesada ou escolher entre gastar e poupar. Aprender na escola como planejar e pensar antes de comprar desenvolve autonomia e responsabilidade.

2. Prevenção do endividamento no futuro

Muitos adultos enfrentam problemas financeiros por falta de conhecimento sobre orçamento, juros ou dívidas. Ao aprender esses conceitos desde a infância, os jovens crescem mais preparados para evitar erros financeiros graves.

3. Formação de hábitos saudáveis

A educação financeira ensina a valorizar o trabalho, evitar o consumismo e praticar o consumo consciente. Com isso, os estudantes aprendem a fazer escolhas com base em necessidades reais, não apenas em desejos momentâneos.

4. Fortalecimento da cidadania

Entender como o dinheiro circula na sociedade, como funcionam os impostos e como as decisões financeiras afetam a economia ajuda os jovens a se tornarem cidadãos mais participativos e críticos.

5. Estímulo ao pensamento crítico e à resolução de problemas

A educação financeira trabalha com situações do dia a dia que exigem planejamento, tomada de decisão, comparação de preços, cálculo de juros, entre outros. Isso estimula o raciocínio lógico e a capacidade de resolver problemas práticos.

6. Conexão com outras disciplinas

Ela se integra naturalmente a conteúdos de Matemática, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa e até Artes, por meio de projetos, atividades práticas, leitura de gráficos, interpretação de textos e simulações financeiras.


 

7. Inclusão social

Pessoas bem informadas sobre finanças têm mais chances de melhorar suas condições de vida. A escola, ao oferecer essa formação, reduz desigualdades e amplia as oportunidades para todos os alunos, independentemente da sua origem.

Como trabalhar o tema em sala de aula?

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já recomenda a educação financeira de forma interdisciplinar. Isso significa que ela pode ser abordada em várias disciplinas:

  • Matemática: operações com porcentagem, juros simples, tabelas e gráficos.

     
  • Ciências Humanas: impactos sociais do consumo, desigualdades econômicas.

     
  • Língua Portuguesa: leitura crítica de propagandas e contratos.

     
  • Ciências: relação entre consumo e meio ambiente.

     

Além disso, projetos práticos como feiras de trocas, jogos de simulação (como banco imobiliário ou RPGs financeiros), planilhas de gastos mensais ou atividades com orçamento familiar podem tornar o aprendizado mais concreto e envolvente.

O papel da família

A educação financeira começa em casa. Por isso, é fundamental que a escola envolva os pais nesse processo, oferecendo orientações, oficinas ou materiais de apoio. A transparência e o diálogo sobre dinheiro ajudam os jovens a entenderem melhor a realidade financeira da família e a desenvolverem empatia e responsabilidade.


 

Conclusão

Ensinar educação financeira nos anos finais do ensino fundamental é investir no futuro. É dar aos jovens as ferramentas para fazerem escolhas conscientes, evitarem armadilhas do consumo e construírem uma vida mais equilibrada. Quanto antes começarmos, melhores serão os resultados. Afinal, aprender a lidar com dinheiro é, também, aprender a viver melhor.

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