A Moda Oficial
Por Bernard Gontier | 10/03/2008 | CrônicasÓculos anos 50 se misturam com blusinha anos 60, calça boca de sino anos 70, piercing dos 80, salto alto e água oxigenada nos 90... (aliás, não lhe parece um grande negócio produzir água oxigenada?) Tantas combinações, o freguês retira das épocas, e dos estilos, o que melhor saciar suas aspirações de momento. No rádio rola tudo, sertanejo, rock, pop brega americano, "é pau é pedra é o fim do caminho", “Nigth and Day”, Bethoven, rap, hip hop... O mesmo sujeito que gosta de Thelonios Monk e Burt Bacarah pode também apreciar com igual deleite Luiz Tatit, Hermeto Pascoal, Paulo Ricardo e Wanderléia. Acredite-me, é possível. E lícito. E o leque se estende. E isso só é possível porque este sujeito é antes de mais nada - fruto, coadjuvante e testemunha - de boa parte dessas fatias de tempo. E a mistura desses ingredientes é o que nos tem sido mais prazeiroso. Nós, os nascidos nos 50/60, vimos de fato calças boca de sino e, o que é pior, usamos. E se antes era possível acender uma vela para os Beatles e logo depois outra para o The Who, daí ao pôster da Rose di Primo, hoje pode-se acender todas ao mesmo tempo e outra mais para o Leonardo Di Caprio, e mais outra para a Gisele Bündchen e o Jim Clark, ambos talvez na mesma parede, por muitos motivos, e também porque o tempo não pára, e um dia dirão no futuro que houve um tempo em que o ser humano finalmente conseguiu passar uma tarde inteira com Zé Colméia, François Truffaut, O Exterminador do Futuro II e Tudo Sobre Minha Mãe. O pacote inteiro leve 4 pague 2, de preferência numa tarde fria e chuvosa de domingo, tudo isso porque já inventaram o vídeo cassete e DVD e porque, definitivamente, tais períodos já ocorreram.